Adaptação em tempos de pandemia
VI Encontro de Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha
Por
Herena Barcelos
Com a acolhedora apresentação de Fernando Rodrigues (Itinga), o movimento dos fazedores de literatura do Jequitinhonha realizou, em ambiente virtual, o VI Encontro dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha, no dia 15 de agosto de 2020. O intuito do encontro foi manter viva a movimentação e partilha dos escritores, sendo pensados momentos de musicalidade, discussões, informações e, claro, muita poesia.
Uma comissão de organização foi estruturada para dar corpo ao projeto, formada por Herena (Itinga), Jô Pinto (Itinga), Cláudio Bento (Jequitinhonha), Cida Almeida (Almenara), Alex Konrado (Comercinho), Paulo André Amaral (Medina) e Wesley Rodrigues J. Pio (Araçuaí).
A abertura ficou por conta do, já consagrado parceiro do movimento, músico e compositor Zaak Porto (Almenara). Jota Neris (Mata Verde) completou o momento com o cordel CUIDE DE SI E DO OUTRO, feito especialmente para o encontro, alertando sobre a importância de nos mantermos vigilantes durante a pandemia.
Cláudio Bento apresentou a história do grupo formado em 2018, complementada por todo conhecimento histórico de Jô Pinto e Tadeu Martins. Banu apresentou seu blog, que vem há anos trazendo informações sobre o Jequitinhonha. Foram lançadas as obras
Cheiro de Jenipapo, de Cláudio Bento (Jequitinhonha)Pós-Memória e Educação do Campo, participação de Ângela Freire (Araçuaí)Revista Subtextos, com participação de Herena Barcelos (Itinga)Livro Aventuras e Desventuras Culturais, do escritor Trabion (Jacinto)Poesia Livre 2020, que teve a participação de Alex Konrado (Comercinho) e Moisés Silva (Ponto dos Volantes)
Com esse novo olhar de quem procura Literatura, percebe-se que o Vale vem desenvolvendo cada vez mais iniciativas ligadas ao fazer literário, como os bordados poéticos de Maguidá, projetos escolares, o FESPOED (Festival de Poesia de Divisópolis), o FESPOARTI - Festival de Poesia e Arte de Itinga, a Árvore das Letras, o Blog do Banu, a Revista Jequitivale. Buscamos sempre evidenciar essas iniciativas, de maneira que, para este encontro, foram apresentados os projetos Versinhos de Bem Querer e Coletivo Leia Mulheres Araçuaí.
"Os Versinhos são uma iniciativa da AJENAI de Jenipapo de Minas, como uma iniciativa de arrecadação de fundos para contribuir com as famílias rurais que perderam renda na pandemia, seguindo ainda o objetivo de levar a cultura do Vale para o restante do país, ajudando a espalhar bem-querer e delicadeza em tempos tão difíceis. Pessoas do mundo todo podem encomendar os versinhos personalizados e oferecer em troca um valor que apoiará a associação" (Elisangela Pedroso).
"O Clube de Leitura Leia Mulheres da cidade de Araçuaí-MG faz parte do projeto nacional LEIA MULHERES (...) vinculado à proposta da escritora, inglesa, Joanna Walsh, que criou o projeto #readwomen2014 (#leiamulheres2014). Em Araçuaí, o projeto surgiu a partir do nosso encontro de no evento Sarau das Pretas, que ocorreu em maio de 2019, no Museu de Araçuaí - um presente de Frei Xico e Lira Marques. (...) Uma vez por mês, o clube se reune para discutir a obra de uma autora. Agora em agosto, o projeto completa um ano em Araçuaí, e convida todos e todas para o seu Sarau de aniversário, dia 27, às 19h no Google Meet" (Thaisa Martins e Amanda Veiga).
O movimento dos escritores vem tentando falar um pouco sobre possíveis caminhos de publicação para aqueles que desejam transformar suas produções em obra. Dessa vez, quem falou um pouco sobre a Loope Editora foi o companheiro de muitos anos Neilton Lima (Almenara), cuja fala foi somada à de Wesley Rodrigues J. Pio (Araçuaí) que falou sobre seu trabalho com a preparação das obras, como diagramador e capista.
O 6º encontro dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha, "Virtual", superou as nossas expectativas, o número de participantes foi além do esperado, o que nos enche de alegria pois isso significa que a sementinha plantada com o intuito de fortalecer as literatura do Vale do Jequitinhonha esta dando frutos. As falas dos palestrantes, as experiências literárias, inclusive destacar o projeto Leia mulheres, ferramenta importante do empoderamento feminino e conhecimento literário das mesmas. O concurso do Sarau poético trouxe uma novidade, os concorrentes tiveram de ler os poemas de cada um avaliar, isso é um ganho pois os autores passam a se conhecer melhor e perceber a forma que cada um escreve. Acredito que estamos no caminho certo com o nosso coletivo e com certeza a literatura do Jequi continuará a dar bons frutos por varias gerações em forma de contos, prosa, romances e muita poesia (Jô Pinto)
O cerne poético aflorou no I Prêmio do Sarau Virtual do Jequi, um oferecimento dos amigos Vicentino Rodrigues, Herena Barcelos, Cláudio Bento e Jô Pinto. O prêmio representou um concurso simbólico, cujo principal objetivo foi a leitura mútua dos participantes, que numa primeira fase tiveram que dar notas ao poemas e prosas dos companheiros. Os cinco melhores classificados se apresentaram no encontro, sendo apreciados e votados pelos querido Tadeu Martins (Itaobim), Thiago Machado (Jequitinhonha) e Alba Dutra (Almenara). Conheça os poemas e o resultado
* No Silêncio do Seu Existir - Jô Pinto - Itinga (1º lugar, empate interpretação)
* O Inconsútil Segredo do Rio -Cláudio Bento - Jequitinhonha (empate 2º lugar e empate interpretação)
* Coral de Silêncios - Samuel Abade (Itaobim) (empate 2º lugar)
* O Menino que Queria ser Rio - Vitor Barreto - Jequitinhonha (júri popular)
* Cores - Ada de Lilia - Araçuaí
A reunião aconteceu na plataforma google meet e recebeu a visita de 60 pessoas, com uma média de 40 participantes. Passaram pela sala: Herena, Claudio Bento, Ada Ribeiro, Cida Almeida, Zaak Porto, Trabion, César Macedo, Alex Lara, Vitor Barreto, Paulo André, Samuel Abade, Otacílio Mendes, Jô Pinto, Jota Neris, Neilton Lima, Fernando Rodrigues, Thiago Machado, Wesley J. Pio, Marlene, Simone de Souza, Deyse Magalhães, Elisangela, Franklin Ramalho, Marcos Danilo, Gabriel Abade, Maria das Graças, Joana D'Arc, Tadeu Martins, Alba Dutra, Professor Elio Arte, Thaisa Martins, Valdirene Souza, Káren Antônio Ferreira, Grace Matos, Viviane Fortes da Silva, Marli de Jesus, Denise Martins, Amanda Barbosa, Eremita Reis, Elisangela Pedroso Lopes, Banu, Vera Lucia Souto Moraes, Monia Mares, Zenith Maria Araújo Lima, Hector Carlos Barreto Leal, Erlane Lane, Silvino Patente Neto, Zum Noronha, Sol Santos, Gracielle Viana Lopes, Mariana Ribeiro, Lawrence Pierry, Ronaldo Cabral, Giovana Lourenço Ferreira, Rafael Souto Viana, Fernanda Ribeiro, Debora Ramos de Morais, Alessandra Noronha Dias, Ana Flavia Cabral, Cássio Catuji.
Jô Pinto
já não sei, não conto anos,
devido aos enganos, desenganos,
talvez isso explique o meu não contar.
parei na minha instancia, nem dias conto mais,
apenas busco na noite ,crepúsculos de dor
em forma sutil de ser harmonia,
há tempos deixei até de contar horas,
desde que meu ventre se fez mãe e meu tempo,
ficou sem tempo, apenas um tempo, o deles,
arranquei meus sonhos de menina, puros e inocentes,
embarquei em uma viagem, que não passou de passagem,
sou fruto de minha própria existência, de minhas escolhas e intransigências,
sou
arrimo, sou mulher, cedro de minhas dores.
no
impulso de meus sonhos, encontrei a felicidade,
bailei
na imaginação de uma canção,
cujas
notas sem refrão pararam um dia meu coração,
por que pra contar é preciso ouvir,
e quem ouvidos me dará, para minhas dores relatar?
e assim sigo, por caminhos e estradas, tentando me compreender,
buscando no meu ser, razões para viver,
e em momentos de relance como um ultimo suspiro,
lembro-me de suas mãos a afagar os meus cabelos,
a contemplar a minha face, e meu corpo em sussurros,
sendo por ti elogiado,
corpo meu lapidado pelas mãos universal, que entrelaçado no seu
formava um só, uma mistura de encanto, de profano e santidade,
parei de contar as lembranças de uma vida, estas devem
ser guardadas em um canto da casa , onde o escuro lhe caberá,
porque as historias dessa vida, nem sempre vale contar,
e às vezes entre as poucas alegrias, o silencio é nosso estar,
mas no meio da escuridão, como um velho ladrão,
até mesmo no silencio, o barulho posso escutar,
e meu velho coração, cansado de tanta dor,
cria esperança de novo, de viver um grande amor,
e mesmo que o sofrimento por la queira habitar,
é bom saber que posso outra vez amar...
e assim deixar a vida de novo me ensinar e poder contar
a minha própria existência, nos braços de quem decidir para sempre amar e eternamente estar.
Links do Encontro